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O sobressalto

Quando dormi, estava sendo assistida pela Ariane, quando acordei, pela Márcia. A noite mais surreal que já tive na CTI... Dormi feito uma pedra até as 4h30 da manhã, com a cabeceira baixa... quando acordei estava sozinha... completamente deitada na cama, estava chovendo e escuro... será que poderia me levantar? Ontem, acordada, lembro que estava com dispneia; hoje não havia nem sinal; não queria, me levantar e recomeçar... quem sabe, se ficasse assim, quietinha, tudo não tivesse passado de um simples sonho. Mas havia de seguir adianta e inquirir a Márcia... - Márcia, e a Ariane? Onde ela está? A Ariane foi atender outro paciente, ou outra área – precisaram fazer um remanejo – e aconteceu de a Ariane precisar ficar com outros dois pacientes, e a Márcia ficar comigo e mais outro, mais próximo do meu quarto-box... E eu só me lembrando dos moranguinhos com yogurt que a Ariane me preparara na noite anterior...memória boaaaaa... A verdade é que o sobressalto foi grande, mas...

A VISITA DO OTTO – Feliz dia das mães

Dia das mães é aquela supervalorização, tanto no Facebook quanto em todos os lugares... Somos mães se postamos fotos ganhando panelas, bolsas, almoços, viajem e tudo o mais para ostentar aquilo que nos define para o resto da vida, sim ou sim... Mas somos mães e não há outra palavra que defina tão bem o amor incondicional. Não entro aqui na discussão sobre tipos de mãe, de gravidez desejada, amada, etc, defino aqui o tipo de mãe que me compele, que eu conheço. O tipo de mãe que dói de tanto amar. O tipo de mãe que coloca e sempre colocou a vida do filho na frente da sua. O tipo de mãe que deixa de comer, de dormir e o que seja para que o filho esteja bem. O tipo de mãe que ainda se pega contando os cílios os as sobrancelhas dos olhos de um menino lindo de 9 anos como se fosse aquele bebe recém trazido da maternidade. Pois bem, é este tipo de mãe que sou e que tenho sido, não só durante nossa vida, mas em especial durante estes últimos anos de câncer. Como inserir o Ott...

As mudanças...

Ontem foi um dia intenso. Ainda estou sonsa com o tanto que fizemos em um mesmo dia e, claro, querendo processar tudo o que ocorreu.... Não sei se será possível... Em primeiro lugar, foi um dia que acordei ótima, após ter dormido a noite inteira. Confiança reestabelecida no tratamento e nos seus prognósticos positivos. Mas então, qual o problema? Por que não simplesmente aproveitar e curtir o bom momento? Por que precisamos da certeza das certezas e, não, simplesmente aproveitamos a boa maré? Neste caso obviamente falo de mim... pois são as minhas dificuldades que me impedem de me concentrar nestas pequenas conquistas e simplesmente deixar para que o universo se encarregue das próximas. Lá se vão mais e mais horas de playlist para me centrar.... Não sei por que? Por que também sou humana e estou aqui como todo mundo para realmente colocar o pé e deixar que Deus construa a ponte.... Mas bem, fui para a cadeira, sofrimento antes e angustia depois, precisei voltar para o leito...

Dona Elaine e as colheres quebradas

Ontem foi um dia, sobremaneira, de aprendizado... Precisei de uma “ajudinha” no final do dia para dormir... coisas da farmacologia. Hoje acordei bem melhor, após um sono intenso e interrupto, e com a imagem maravilhosa de minha médica dizendo que que havia sonhado comigo sem o O2... já me animei toda!!!! Dra. Ana Gelatti não existe, de tanta competência, conhecimento e empatia. Os sinais vitais estão ótimos, já estou ‘desmamando’ o auto-fluxo (aparelho que permite uma melhor entrega de oxigênio) e ficando um pouco mais próxima de uma oxigenação que eu possa suprir em casa. O esperado com a imunoterapia está ocorrendo. Enfim, estou melhorando, a passos largos. Hoje são 7 dias de CTI. Sete dias que percebo o amor, cuidado e respeito que desfruto de todos ao meu entorno. Quem me conhece bem, sabe como isto é importante. Não sou, nem nunca fui uma sensacionalista em nada do que fiz em minha vida, e de fato, este é um momento ainda muito privado, ainda que eu utilize deste esp...

Ensinar e aprender

Chega uma hora na vida em que nossa existência irá se resumir a ensinar aos outros, servir de instrumento para evolução de cada um, em seu próprio propósito.   Não amigos... não se assustem, não cheguei neste estágio ainda, mas acho que minha colega de baia sim, a Sra. X, entubada com uma traqueostomia há algum tempo, com 90 anos, já não esboça resistência e realmente não consigo perceber se está do lado de cá ou em outras esferas. Mas consigo, sim, ver sua imensa função aqui na terra ainda. Ensina a todos, dia e noite. Todos devem estar lá para cuidá-la com respeito e extremo carinho... E eu estou aqui na baia da frente, bem lúcida, constatando isto também... Ao cuidar, quem está com a função do cuidado, está expressando seus mais puros sentimentos de próprios cuidados. Ou seja, o que entende por cuidado para si próprio. Tipo um espelho do que recebeu de cuidados em sua própria existência. Pode até só parecer um ato técnico, mas o que a pessoa que cuida sente é sempre hu...

Desnudada

Me dei conta de que uma das piores coisas que poderia acontecer comigo na CTI seria uma necessidade de intubação de emergência, que se fizesse às pressas, por queda de minha saturação, e que, não só não me permitisse o convívio com os meus de forma lúcida e digna nos últimos momentos de vida, mas que ainda impusessem a esses sofrimento desnecessário. Meio que entrei em pânico. Não queria dormir. Fui agraciada com um delicioso banho na cama, por duas anjas, as técnicas em enfermagem da CTI, Karen e Bianca, o melhor banho hospitalar que já tomei. O carinho, cuidado e precisão que me banharam sem me cansar em nada, foi digna de eterna gratidão. Não só o banho, mas o momento tenso, em que não queria dormir, para não correr o risco de ser entubada a força, caso dessaturizasse dormindo. Este sim, com efeito mais relaxante do que qualquer outro, em momento tão tenso... Enfim, hoje, acordei por volta das 5 horas da manhã, após umas 6 horas de sono direto, com 95 de saturação e 104 BMP. ...

CTI

Dizem que para tudo há sempre uma primeira vez nesta vida. Então para mim não poderia ser diferente. É minha primeira vez em uma CTI. Mais, especificamente, na CTI do Hospital Mãe de Deus. É nela que estou me recuperando de um quadro agudo de duas infecções, ordinárias para muitos – como bem definiu a amada médica Laura Cordeiro Madeira ontem à noite –, mas mais graves para mim que estou imunodeprimida devido às quimioterapias recentes. Volto, eu, para a corda bamba mais uma vez.... Só me lembro de ter rezado mais na vida quando quem estava internado era o Otto, há praticamente uns 8 anos atrás, no Hospital da PUC, bebê, por uma pneumonia muito grave também. Se não me encontro rezando para agradecer às infinitas bênçãos que me cercam (ter o atendimento do SOS Unimed, que me levou em segurança e com todo oxigênio que eu precisava para a Emergência do Mãe de Deus no último domingo; ter tido e estar tendo todo o atendimento de ponta desta CTI, inclusive um equipamento novo, ...