Ensinar e aprender

Chega uma hora na vida em que nossa existência irá se resumir a ensinar aos outros, servir de instrumento para evolução de cada um, em seu próprio propósito. 

Não amigos... não se assustem, não cheguei neste estágio ainda, mas acho que minha colega de baia sim, a Sra. X, entubada com uma traqueostomia há algum tempo, com 90 anos, já não esboça resistência e realmente não consigo perceber se está do lado de cá ou em outras esferas. Mas consigo, sim, ver sua imensa função aqui na terra ainda. Ensina a todos, dia e noite. Todos devem estar lá para cuidá-la com respeito e extremo carinho...

E eu estou aqui na baia da frente, bem lúcida, constatando isto também...

Ao cuidar, quem está com a função do cuidado, está expressando seus mais puros sentimentos de próprios cuidados. Ou seja, o que entende por cuidado para si próprio. Tipo um espelho do que recebeu de cuidados em sua própria existência.

Pode até só parecer um ato técnico, mas o que a pessoa que cuida sente é sempre humano, ou seja, mais do que só técnica. Ela experimenta empatia, simpatia, amorosidade, afeto, asco, nojo, aversão ou repulsa, e é disto que estou falando.

Ao observar este box que avizinho, como estou constantemente direcionada à ele, percebo isto. E aí vou para minha humilde existência...

Cheguei eu aqui também para aprender com a Sra. X? O que há lá para eu aprender? O que posso melhorar em mim, a partir da Sra. X?

E aí dói. Dói perceber que não está no outro mais o meu foco, mas em mim mesma. Dói perceber que ainda tenho tanta voracidade pela vida que minha lista de aprendizado é enorme... maior do que eu teria que deixar de legado de fato... E me percebo aqui, talvez sendo o objeto de observação de outra colega que está em melhor situação, Sra. Y...

De fato, agora não importa, preciso tirar dos escaninhos da minha mente toda a paciência, humildade, tolerância e perseverança para poder passar por isso. Isto mesmo, passar por isto. Pois as boas novas são que estou melhor hoje do que ontem. Dormi bem, levantei sozinha do leito, dei dois passos e já fiz alguns exercícios com a querida fisio Gabriela. A saturação está bem melhor e já não estou utilizando o aparelho do auto-fluxo em sua capacidade máxima. O prognóstico é bem mais positivo... Mas o que dizer da “minha equipe” que está lá continuamente me amando e apoiando. Meu marido, incansável, é o amor da minha vida, e como sempre, está lá para me segurar os pés e massageá-los; meus irmãos Márcio e Patrícia, diariamente nos apoiando, aqui e lá com o Otto; e amigos queridos com orações e preces sem parar, muito obrigada Luana, tia Lili, Claudinha, Roberta, Baby e Melissa, só para mencionar algumas, amo vocês e só fizeram me sentir melhor.

Quanto ao futuro, este à Deus pertence, mas que estou mais próximo de casa, estou. E a isto sou grata à Deus e sua infinita misericórdia em mobilizar energias e pessoas para proceder verdadeiros milagres na Terra.

Até mais

Abraços carinhosos

Janaína Carneiro