Reflexões sobre o que é ser professor do ensino superior - Editorial da Revista Científica da UERGS v1. 2018
Na
agenda internacional, inovação e desenvolvimento são as temáticas da época.
Assim como, o cenário proposto no Paris +10 onde a educação, a pesquisa e a
inovação – com responsabilidade social são a ordem da década para as
instituições de ensino superior (NEZ; 2011 p.1). Mas para quem? E por quem?
Sua
proposta de ampliar o escopo da universidade para serviço do desenvolvimento e
da inovação PEREIRA (2013) já é percebida ao passo que algumas Universidades,
hoje chegam a parecer pequenas cidades que incorporam empresas, entidades de
classes e órgãos comerciais de serviços configurando-se, por vezes em
praticamente grandes shoppings centres.
Não que isto seja, por si só, de qualquer forma
negativo. O progresso, por princípio é positivo. Entretanto, quando
conjuntamente, temos políticas de demissões em massa de docentes, exclusão
curricular de componentes de base para formação social do indivíduo e supervalorização
das exatas e das técnicas já na formação básica, necessário, pelo menos, a
reflexão.
Neste
cenário, me pergunto para onde vai a educação universitária? Quais os caminhos
que esta estará trilhando nos próximos anos? Sem poder deixar de pensar, que
existe aí um ator que por vezes fica sem a devida voz na formação das políticas
educacionais nacionais e internacionais, mas que efetivamente, é quem está no
front de batalha. O professor universitário.
Teoricamente,
este ator, tem o papel de implementar dentro da sala de aula as políticas de
ensino determinadas por órgãos regulamentadores que determinam as diretrizes e
bases educacionais de uma nação. Por assim dizer, formar a massa crítica da
sociedade. Entretanto, esta formação passa por diversas etapas que, extrapolam
por vezes, as capacidades de um corpo docente de executá-las. Seja por não
estarem tecnicamente preparados, seja por não estarem politicamente engajados
com tais diretrizes e bases. Mas o que seria formar a massa crítica da
sociedade? Formar para o trabalho técnico especializado? Formar para a vida?
Formar para o convívio social? Formar para terem suas próprias opiniões? Ou
quem sabe tudo isto junto?
O
papel do professor, segundo o professor ALVES (2013), Sociólogo da UFRGS é “fornecer
instrumentos de pensamento aos alunos”. Ou seja, ensinar a pensar por si
próprio. Esta definição está muito próxima de uma política emancipatória onde o
professor é o agente facilitador de um desenvolvimento pessoal pelo qual os
jovens são conduzidos a passar e de onde o produto esperado é um indivíduo mais
maduro, autônomo e consciente de suas competências e habilidades podendo
empregá-las no decorrer de sua vida como ativo pessoal, intransferível e
inalienável.
Entretanto,
as dificuldades andam sempre juntas com as benesses. Quando o Dubet
(1996) afirma que “A
pedagogia é uma técnica da operacionalização da personalidade. Quando se pede a
um professor para mudar o seu método, não se pede apenas que ele mude de
técnica, pede-se para que ele próprio mude”. Coloca mais uma atribuição à já árdua tarefa de ensinar. Pois
sim, ensinar é difícil. E ser Professor Universitário é estar disponível mental
e emocionalmente para enfrentar estas dificuldades objetivando, em última
instância, a formação de um aluno consciente, competente, habilidoso e humano
no desempenho de sua vida acadêmica, profissional e adulta. Ser um bom
Professor, para mim, é conseguir atingir estes objetivos e sentir-se feliz com
isto. Sentir-se capaz de mudar, não só o discurso, mas quantas vezes forem
necessárias para entrar em sala de aula com algo relevante, desafiador e sair
dela, com a sensação de paz por, se não no todo, pelo menos em parte, ter
acalmado um pouco a angústia do saber de quem quer apreender.
Enfim, para ser um bom professor universitário
é necessário ter, em última instância, autoconhecimento e maturidade para
adequar-se com personalidade à atividade docente. Ou seja, saber o que lhe
serve e o que não lhe serve em cada momento da atividade pedagógica. Algo muito
mais complexo que qualquer filosofia de com ou sem partido. Penso que sim,
precisamos resgatar isto sim... o propósito. Enfim, uma breve reflexão sobre o que é ser Professor no Ensino Superior hoje em dia...
http://revista.uergs.edu.br/index.php/revuergs/article/view/1442/279
Referências:
Nez.
Egeslaine de Processo de Bolonha (Espaço Europeu do Ensino Superior
- EEES): Políticas Públicas para a Educação Superior Brasileira? ANPAE, 2011. Disponível em: http://www.anpae.org.br/simposio2011/cdrom2011/PDFs/trabalhosCompletos/posters/0052.pdf Acesso em: 18/01/2018
PERALVA, Angelina
T.; SPOSITO, Marília P. Quando o sociólogo quer saber o que é ser professor - Entrevista com François Dubet. Espaço Aberto no. 5, 1997.
PEREIRA, Villela
M. A Hegemonia da Prática e a Globalização da Educação Superior – PUCRS, Porto Alegre, 2013.
ALVES, Caleb, F. O que é ser Professor? Palestra
para disciplina de Metodologia do Ensino Superior PUCRS – maio, 2013.
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